Missão " PAZ PARA TODAS AS NAÇÕES " SETEMBRO DE 2015
Chókwè ou Chokwé é uma cidade moçambicana da província de Gaza e sede do distrito do mesmo nome. Em 2002, estimava-se que o município teria 50 000 habitantes, numa área de 50 km².
Situada junto ao rio Limpopo, numa área de grande potencial agrícola, a povoação tomou o nome de Vila Trigo de Morais em 25 de Abril de 1964, em homenagem ao Eng. António Trigo de Morais, responsável pelo desenvolvimento do regadio do Limpopo. Em 17 de Agosto de 1971 foi elevada a cidade e em 13 de Março de 1976 passa a denominar-se Chókwè[1] .
O Chókwè é, desde 1998, um município com governo local eleito. O primeiro presidente do Conselho Municipal do Chókwè foi Salomão Tsavane, eleito em 1998[2] , sendo sucedido em 2003 por Jorge Macuácua, releito para o cargo em 2008. Os dois presidentes representaram o Partido Frelimo[3] . A actual presidente do Conselho Municipal da cidade chama-se Lídia Frederico Cossa Camela, eleita nas eleições autárquicas de 2013, representando o partido Frelimo
NOTÍCIAS DA ÁFRICA - CHOKWÉ

QUANDO Olinda M. começou a frequentar a Escola Primária de São Vicente de Paulo, no distrito de Chókwè, província de Gaza, estava debilitada. Durante as aulas tremia devido à doença e à fome.
Com a ajuda, a rapariga recompôs-se, ganhou peso e virou uma aluna brilhante na escola.
É neste estado que algumas crianças órfãs e de famílias de pouca posse financeira chegam àquele estabelecimento de ensino das Irmãs Vicentinas Filhas da Caridade. Na instituição, que lecciona de 1 a 7ª classes, estão inscritas 1101 crianças. Destas, 118 lutam para se manter na escola para um dia vencer a pobreza. Olinda estava nesta condição.
Para não abandonar as aulas, os alunos necessitados contam com a ajuda da associação Um Pequeno Gesto (UPG) que busca parcerias com outras organizações para garantir material escolar, lanche, cesta básica e aulas de apoio. Esta associação ajuda também aos encarregados de educação dos alunos em projectos de geração de rendimentos.
Hilário Langa, técnico da UPG, conta que a associação se apercebeu de que Olinda precisava de ajuda porque andava sempre doente e fraca. Por volta das 10 horas da manhã tremia, uma vez que medicava sem antes ter se alimentado.
“Passamos a oferecê-la lanche e uma cesta básica à sua família. Recuperou e ficámos muitos felizes”, observou Hilário Langa.
Filha de pai cego e órfã de mãe, Olinda é a mais velha entre os irmãos, cujo número não especificou. Na escola passou a figurar na lista dos melhores alunos, embora tivesse a dupla tarefa de cuidar da família e dedicar-se aos estudos.
Quando tudo parecia correr bem, segundo Hilário Langa, eis que a desgraça chega. Aos 14 anos, já na 7.ª classe, esta menina é forçada a casar com um homem muito mais velho que ela, trabalhador das minas da África do Sul. O pai da rapariga diz que não podia impedir que se realizasse o “lobolo” porque a família assim decidira.
Já casada, Olinda passou a viver numa região distante da escola. Engravidou e foi obrigada a abandonar a escola. O filho que viria a nascer perdeu a vida e ela começou a adoecer. A família do marido da Olinda devolveu-a à casa do pai.
“Fiquei chocado com a estória desta criança. Era muito inteligente. Até hoje não entendo por que é que o pai permitiu que a menina casasse. Não sei se é por causa da pobreza…Tentámos participar o caso ao Gabinete de Atendimento a Mulher e Criança Vítima de Violência, mas não tivemos sucesso. A Polícia considera este tipo de casos é comum no Chókwè, ou seja estas que situações são tidas como normais naquele ponto do país, e que o assunto só poderia ser resolvido na esfera familiar”, lamentou Hilário Langa.
Olinda é apenas uma entre várias vítimas de casamentos prematuros e forçados no nosso país, em particular. As meninas pobres e que vivem em zonas rurais são as que mais sofrem com esta prática determinada por questões culturais.
Segue-se depois a gravidez e poucas conseguem continuar com os estudos. Para além de isso, algumas contraem doenças, outras perdem a vida ou vê os seus bebés falecer.
O relatório das Nações Unidas sobre a situação da população mundial do ano, tornado público ano passado revela que nove em cada dez raparigas ingressam no Ensino Primário em Moçambique, mas apenas cerca de duas de cada dez chegam ao nível secundário. O mesmo documento indica que em países em vias de desenvolvimento, tal como o nosso, cerca de 70 mil adolescentes morrem anualmente de causas relacionadas com a gravidez e o parto.

NA Escola de São Vicente de Paulo há alunos que faltam às aulas com regularidade. Outros chegam mesmo a abandonar os estudos para a vizinha África do Sul, casar ou cuidar dos irmãos mais novos.
A professora Erma Zico explica que uma das dificuldades que os alunos têm é falar a língua portuguesa. “Muitas crianças falam Changana e não estão habituadas a expressar-se em Português. Por vezes, tenho que explicar na língua local”, refere Erma Zico.
Para esta professora, as meninas são as que mais faltam à escola porque as mães as deixam em casa para cuidar dos irmãos mais novos, enquanto elas se dedicam ao trabalho da machamba para o sustento da família.
“Estamos a lidar com alguns encarregados de educação que não entendem ainda o valor da educação formal. Há muitos mineiros bem sucedidos no Chókwè em relação a algumas pessoas formadas, o que deixa as pessoas embaraçadas”, entende Hilário Langa.
Para inverter o cenário, as crianças são ocupadas quase todo o dia, isto é, durante o período que não tem aulas são envolvidas em estudos orientados, limpeza da escola e produção da horta.
“Convidamos também aos encarregados de educação a participar no trabalho da horta. Eles, geralmente vêm no mesmo dia em que o aluno tem estudos orientados. Isto permite garantir que a mãe ou a criança esteja na escola. Se um falta saberemos do outro as razões, e assim procuramos a solução. Se os dois não se fazem presente, dedicamos a sexta-feira para ir à casa das crianças saber o porquê da sua ausência na escola”, explica Hilário.
Esta forma de agir tem ajudado muito a garantir que as crianças não abandonem as aulas.
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